10/02/14

TESTAMENTO DITADO AO OUVIDO

Pela Teresa, minha mãe, e para ela


Quando o relógio do tempo
Marcar a hora da viagem
Rumo à profunda boca do olvido
Quero ir bonita
Como se fosse de passeio
Até à Foz ou à Afurada
Assistir a uma chuva de estrelas


Da Ponte da Arrábida
Com lágrimas de sal e fogo
Direi até logo à festa de São Pedro
Soprando na mão em concha
um último beijo ao Cabedelo

O corpo que vêem partir
É um concentrado de lágrimas
De lutas de raivas e de sonhos
Viveu quanto o tempo aceitou

Em vida deixou raízes
E na viagem mais sonhos semeará


Até logo meus pedaços de mim


António Barbosa Topa
Paris, 28.03.2003



1 comentário:

Júlia Coutinho disse...

adorei... não posso dizer mais. comoveu-me. seriam estas as palavras que ditaria para meu testamento. com ligeiras alterações locais. obrigada.