24/07/14
08/07/14
Ultima viagem rumo à terra da Alegria
Para o Rogério Carrola, derradeiro aceno
foste assim
de repente
para Itacaré
E agora
Rogério o que faço sem ti
Como fazer
sem o copito de "Côtes du Rhône"
sem as nossas bebedeiras de luz
Hoje
lunes de plomo
sem conhecer norte
nem sul
convidei a Margaridao o Delfim
o Romeu
(o Silvio ja tinha partido)
para uma almoçarada
em tua honra
em Pequim
naquele restaurante
quase em frente ao Palacio do Povo
Fardado a rigor
la veio um enviado
do Comité Central
perfilado
para tentar conhecer os nossos sonhos
Encomendei uma de Monte Velho
Rodopiou
deu três passos atras
e la foi tratar da encomenda
Nao sei se tomou conta do recado
ou se tropeçou nalguma garrafa
porque
entretanto desci na estaçao de metro Brochant
encomendei "un ballon de Côtes du Rhône"
no café que faz esquina com a rue Sauffroy
enquanto fui telefonar ao Julio Henriques
desta vez anunciando a minha morte.
Paris, 7 de Julho de 2014
02/06/14
16/04/14
15/04/14
14/04/14
13/04/14
12/04/14
11/04/14
XV
Sentado no cais da Ribeira
fiquei à tua espera
contabilizando sonos sonhos
navios neblinas e delírios
Quando cansado de perscrutar
a linha do horizonte
acordei estremunhado
lá vi a tua velha bicicleta de fogo
mas tu não vinhas pedalando nela
Deitado na espuma das palavras
adormeci esperando a maré viva
e o regresso do teu cheiro a canela
Foram longos os dias e as noites
até que à costa desse a tua bicicleta
que trazia o cheiro a canela e um recado
«Numa terra intensamente branca
encontrei peixes de mil cores
tremoços azuis cerejas cor de nácar
e pérolas do tamanho do sol
Um velho sábio sem dentes soletrava sonhos.
Fico aqui. Dorme em paz. Até logo.»
10/04/14
09/04/14
08/04/14
07/04/14
06/04/14
05/04/14
Poemas de Boas Vindas - Para os meus netos
POEMA DE BOAS VINDAS
Para a Myríam
Sê bem vinda a este mar em tormenta
Que o Lince te guíe o passo
E a águia andina o fulgor do olhar
Conhecerás o amor e o ódio
A bonança e a tormenta
Por vezes dirás mal do vento e do relâmpago
E quererás deter o andar do tempo
Lembra-te então do sol
E da constelação do sangue do sonho
A que volta todas as manhãs
Beijando os lábios da brisa
Diante do altar do vento
Farás uma prece ao esplendor dos pinheiros
Vê como arde a noite
Cheirando a resina
Paris, 5 de julho 2001
António Barbosa Topa
_ _ _ _ _
POEMA DE BOAS VINDAS
Para o Rafael
Serás relâmpago e trovão
Anunciando a doce chuva de Agosto
Sê sempre recto e justo
Sem nunca te desviares
Do caminho que leva até à verdade
Encontrarás quem queira amansar
o que em tí há de maís puro
Querendo desviarte desse caminho
Resiste aos encantos da mentira
caminhando pelo teu próprio pé
e sem nunca baixares o olhar
Há olhos que incendeiam searas
os teus incendiarão o futuro
Paris, 24 de julho 2003
António Barbosa Topa
04/04/14
03/04/14
02/04/14
O BURRO INTUITIVO
Em memória de Almiro de Sousa Gonçalves
Aposta sempre no amigo
e na mão que lhe estendem
sem pensar no punhal
que a mesma esconde
Chora sozinho
quando sabe e pressente
o frio da lâmina traiçoeira
Paris, 07 de Julho 2011
01/04/14
30/03/14
IV
Não esperar por mais nada
nem ninguém
Ousar olhar o sol de frente
até cegar
Gritar
gritar tanto
até que a voz se apague
E o silêncio invada
as veias do sonho
29/03/14
III
Ouvir gemer o mar
acariciando a espuma das ondas
Saborear o sal o sol a bruma
na espuma das palavras
Adormecer na linha do horizonte
até que o silêncio estale
28/03/14
Para o Luís Marques
Deitar
para trás das costas
o
peso das palavras e das lágrimas
Desaprender
a falar
Nomear
a bruma e o sonho
em silêncio
Ousar
olhar o mar intensamente
até que os olhos doam
Esperar
que a lua se espreguice
na
linha do horizonte
e
se acoite na boca do delírio
Morrer
então abraçado ao sol
para
o Luis Marques
27/03/14
Poema
Enfrentaste
luas
marés e tempestades
sorrindo
Enfrentaste
noites
sem dormir
embalando sonhos
Suportamos
ódios
e sonos antigos
gemendo
Suportamos
vidas
e mortes
por acontecer
Foi
e é viagem
entre noite silêncio
e bruma
26/03/14
Poema para a Ana
A
pena vale sempre se
pelas veias da alma e
do mar navega
Pessoa
tinha razão
para
a Ana
19/03/14
BUSCA
Há mil anos que falo comigo
e há mil que procuro
o secreto caminho do silêncio
aquele que leva até ao sítio
onde o vento mora
e os sonhos se aconchegam
Há mil anos que navego
entre Bojador e estrelas
à procura dum celacanto
Quando dobrar a esquina do sono
irei passear pelas ruas do Cairo
de mão dada com o meu celacanto
Aí o trocarei por um camelo
e com este percorrerei os mares do sul
até encontrar a exacta bissectriz das bocas
17/03/14
Poemas para a Myriam e para o Rafael
Nota do editor:
O poeta deixou bem explícito que desejava que os poemas para os seus dois netos fossem publicados ao mesmo tempo. O editor assim fez! Se clicarem nos poemas talvez os leiam com mais facilidade.
16/03/14
BALADA POR MOÇAMBIQUE
Mãe
Maningue chuva
Já não
sei chorar
Filho
Não é nada
São lágrimas
Que sobraram do sonho
Tio
Maningue vento
Já não
sei voar
Filho
Não é nada
São estrelas
Que sobraram do sonho
Maningue frio mãe
Já não sei dormir
Não é nada filho
Dorme aos pedaços
Agasalha-te no sonho
Amanhã filho
Maningue chuva de pão
E os machimbombos serão navios
Carregadinhos de peixe
E as minas mãe
Serão maningue no céu
Dorme filhinho
António Barbosa Topa
(Nota: maningue = muito; machimbombos=autocarro, ônibus)
07/03/14
03/03/14
19/02/14
Textos lembrando o Rogério Carrola
1.
Queria
fazer
como
sempre fizeste comigo
estender-te
a mão
partilhar
tristezas
alegrias
e
bebedeiras de luz
2.
(22.01.14)
Apagar-te
da memória é
impossivel
Mas
esta doi muito
quando
o inverno do tempo
se
atravessa no caminho
colocando
pedras sobre pedras
para
impedir o abraço
as
mãos fraternas sempre estendidas
Antes
da minha última viagem
quero
erguer contigo uma taça de tinto
de
medronho ou de absinto
junto
aquela lingua de sal e fogo
entre
Douro e Atlântico
Até
logo e até sempre
no
Cabedelo.
18/02/14
ATÉ LOGO, EM DILI
Para Xanana Gusmão
Não quero só o sol
Quero ver as crianças
soletrando sonhos
Inventando um pas
intenso e novo
Não quero só o sol
Quero ouvir as mulheres
do meu povo
Cantando aos filhos
meigas cantigas de embalar
Não quero só o sol
Quero aprender com os
antigos
Como se tecem lendas e
contos
Não quero só o sol
Quero também a lua
cheia de prendas
Para todos os meninos
do Porto até Dili
Não quero grande coisa
para mim
Mas quero muito e tudo
para Timor
Quero o sol quero a lua
quero as estrelas
Quero a paz e o amor
inundando e invadindo
As praias de Timor
enfim livre
Até logo em Dili.
António Barbosa Topa
O Xanana Gusmão recebeu este poema quando estava em residência vigiada na Indonésia, o poema chegou via uma amiga comum.
Ele teve a gentileza de me enviar um postalinho, acusando recepção.
A. B. T.
15/02/14
Os seios da Miquelina
Morangos
que à minha boca
apetecem
nela saltam
e a adoçam
Morangos que
nas minhas mãos
latejam
saltam e
depois adormecem
Morangos
fonte da minha sede
ânforas onde bebo
o mel e o vinho
com que alimento o fogo
incendiando o mar
Morangos
cujo sumo bebo
insaciável
até à lia
(poema que subrepticiamente o escriba publica sem consentimento do autor)
14/02/14
13/02/14
12/02/14
Comandante de Sonhos
Em
memória do Capitão Salgueiro Maia
Na
madrugada qua abriu as portas do sonho
sabias
melhor que ninguém o peso do silêncio
mas
foste em frente decidido a calar para sempre
as
vozes agoirentas dos abutres que nos sugavam
Na
madrugada que nos abriu as portas do sonho
gostaria
de ter estado a teu lado para saborear
o
certeiro silêncio que calou chacais e cães
e
fez com que um povo até aí mudo cantasse livre
Na
madrugada que nos abriu as portas do sonho
que
lendas foste tecendo de Santarém até Lisboa
para
que um povo ousasse então cantar
desafiando
senhores mitos e medos antigos
Na
madrugada que nos abriu as portas do sonho
quem
pensou em ti e nos sonhos que nos deste
quem
no regresso livre pensou no homem da festa
Capitão
de sonhos e de silêncios de azul e bruma
não
é nada apenas uma brisa forte intensa e densa
um
vento puro que arrasa trindades e carmos
Até
logo comandante continuamos a teu lado
António
Barbosa Topa
11/02/14
Deitar contas à vida (tentativas de poemas)
(Para
o Júlio Henriques)
Se
tiver tempo
arrumo
os seixos
que
apanhei na praia
e
escrever-te-ei uma carta
contando
os segredos das marés
Se
tiver tempo
apanho
um navio até Portalegre
para
da proa acenar ao domador de cavalos
ao
Julio perdido entre muitas palavras e letras
mas
sempre atento e derreado com a dor alheia
que
sempre assumiu como sua
(07.08.2013)
10/02/14
TESTAMENTO DITADO AO OUVIDO
Pela
Teresa, minha mãe, e para ela
Quando o relógio do tempo
Marcar a hora da viagem
Rumo à profunda boca do olvido
Quero ir bonita
Como se fosse de passeio
Até à Foz ou à Afurada
Assistir a uma chuva de estrelas
Da Ponte da Arrábida
Com lágrimas de sal e fogo
Direi até logo à festa de São Pedro
Soprando na mão em concha
um último beijo ao Cabedelo
O corpo que vêem partir
É um concentrado de lágrimas
De lutas de raivas e de sonhos
Viveu quanto o tempo aceitou
Em vida deixou raízes
E na viagem mais sonhos semeará
Até logo meus pedaços de mim
António Barbosa Topa
Paris, 28.03.2003
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