30/03/14

IV


Não esperar por mais nada 
nem ninguém

Ousar olhar o sol de frente 
até cegar

Gritar 
gritar tanto
até que a voz se apague

E o silêncio invada 

as veias do sonho






29/03/14

III


Ouvir gemer o mar
acariciando a espuma das ondas

Saborear o sal o sol a bruma 
na espuma das palavras

Adormecer na linha do horizonte 

até que o silêncio estale








28/03/14

Para o Luís Marques


Deitar para trás das costas
o peso das palavras e das lágrimas

Desaprender a falar

Nomear a bruma e o sonho 
em silêncio

Ousar olhar o mar intensamente 
até que os olhos doam

Esperar que a lua se espreguice
na linha do horizonte
e se acoite na boca do delírio

Morrer então abraçado ao sol



para o Luis Marques

27/03/14

Poema


Enfrentaste luas
marés e tempestades 
sorrindo

Enfrentaste noites 
sem dormir 
embalando sonhos

Suportamos ódios
e sonos antigos 
gemendo

Suportamos vidas
e mortes 
por acontecer


Foi e é viagem 
entre noite silêncio 
e bruma

19/03/14

BUSCA


Há mil anos que falo comigo
e há mil que procuro
o secreto caminho do silêncio

aquele que leva até ao sítio
onde o vento mora
e os sonhos se aconchegam

Há mil anos que navego
entre Bojador e estrelas
à procura dum celacanto

Quando dobrar a esquina do sono
irei passear pelas ruas do Cairo
de mão dada com o meu celacanto

Aí o trocarei por um camelo
e com este percorrerei os mares do sul

até encontrar a exacta bissectriz das bocas


17/03/14

Poemas para a Myriam e para o Rafael





Nota do editor:
O poeta deixou bem explícito que desejava que os poemas para os seus dois netos fossem publicados ao mesmo tempo. O editor assim fez! Se clicarem nos poemas talvez os leiam com mais facilidade. 


16/03/14

BALADA POR MOÇAMBIQUE


Mãe
Maningue chuva
Já não sei chorar

Filho
Não é nada
São lágrimas
Que sobraram do sonho

Tio
Maningue vento
Já não sei voar

Filho
Não é nada
São estrelas
Que sobraram do sonho

Maningue frio mãe
Já não sei dormir

Não é nada filho
Dorme aos pedaços
Agasalha-te no sonho

Amanhã filho
Maningue chuva de pão
E os machimbombos serão navios
Carregadinhos de peixe

E as minas mãe

Serão maningue no céu

Dorme filhinho

António Barbosa Topa


(Nota: maningue = muito; machimbombos=autocarro, ônibus)