13/07/15

DELÍRIO



Cruzámo-nos por acaso
junto ao Sena perto da Pont Mirabeau


Ela vinha de Cuzco trazia um chapéu
e só falava quechua


Eu vinha da Ribeira lá para os lados do Porto
trazia nos olhos o nevoeiro
e no bolso um seixo
liso redondo quase pérola
e só falava Porto


Começou a nevar
e pouco a pouco o Sena (foi em Maio)
era só um risco quase azul
entre alvos lençóis
onde um fio de sangue
denso puro e virgem
desenhou uma águia andina
rompendo a neblina da Afurada
espetando os dedos nos olhos do sono


António Barbosa Topa

(Antologia Aurora de Poetas - Poetas Somos - Ediçao Campo das Letras)



Sem comentários: