14/04/19

"Devagar, nas asas do vento" / "Partir sur les ailes du vent"

Acaba de ser publicado pela OxalaEditora.com :



"Devagar, nas asas do vento / Partir sur les ailes du vent"

(tradução/traduction de Dominique Stoenesco) 



No dia 27 de Abril será apresentado na Casa de Portugal, Cité Universitaire (Paris), no âmbito de uma exposição intitulada "Refuser la guerre coloniale", e no dia 28 de Maio em Gennevilliers, numa iniciativa promovida pela Câmara Municipal.

No Porto, dia 20 de Setembro, na UNICEPE.


E ainda:



NUNO GOMES GARCIA CONVERSA COM ANTÓNIO TOPA: “ÍAMOS AOS BAIRROS DE LATA PARA DESPERTAR CONSCIÊNCIAS”

https://lusojornal.com/nuno-gomes-garcia-conversa-com-antonio-topa-iamos-aos-bairros-de-lata-para-despertar-consciencias/

Entrevista realizada no quadro do programa «O livro da semana» na rádio Alfa, apoiado pela Biblioteca Gulbenkian Paris (8 de Abril 2019) 

26/07/16

POEMA DE BOAS VINDAS


para Olivia, com carinho



Foste trovão e relâmpago em Dezembro

aquele que antecede a bonança

anunciando a doce chuva de Agosto

Assim te pressinto e quero

rosa de fogo e de azul

onda mansa e vaga altiva

contra os assaltos do tempo

implacável com a traição

condescendente com os humildes

Eu estarei sempre

na orla do mar

ou na linha do horizonte

acenando-te

soprando na mão em concha

um beijinho terno denso

imenso

quase do tamanho do mundo

e com este recado

Sê sempre alta e pura

branca como a alegria.


Antony, 24 de Julho 2016

António Barbosa Topa

31/05/16

Ainda não chegaste

Ainda não chegaste
onde começa o orvalho
e já pressinto o teu gesto
o teu odor a canela

Quando chegares
a tua mão na minha
iremos à procura do sol

O meu passaporte
és tu debruada de fogo
Sei que não haverá estrela
que nos atolhe o caminho

Debruada de linho e água
serás toalha sobre o Douro
para saborearmos o sável
e assistir ao suicídio das taínhas

Devagar
entrega-me ao Cabedelo
e dá-me um beijo

O corpo que vês partir
não é corpo
é barco e onda
a algum porto há-de chegar


Paris, 2001


António Barbosa Topa

30/05/16

Devagar


Devagar
como o fogo e a água
por dentro da noite

deitar-me
numa lágrima
até ser rio

vestir-me
de azul e bruma
ser asa

Quando a noite
for água e fogo
tirar a gravata

espetar o sono
nos cornos do tédio
respirar

Devagar
num só instante
como a águia

em voo picado
penetrar no azul
do fogo  da água
Devagar pela noite dentro
até ser vento

Antonio Barbosa Topa


Paris, 05.04.2001

31/12/15

DÚVIDA DESEXISTENCIAL



Entre a capela do Senhor da Pedra

e o Cabedelo

já não sei onde ficar

dormindo para sempre


Pouco importa


É sempre o mar


É sempre o mesmo caminho

rumo à boca profunda do sonho

buscando o delírio


e a meiguice da espuma das ondas



17/07/15

ÚLTIMO ACENO


Em memória do José Rogério Mineiro Carrola


Disseram-me que estavas para a praia
enquanto eu caminhava para o inferno


Foste para a praia grande sozinho
ou de mãos dadas com o vento ?


Eu estou indo a caminho do azul
lá para os lados do Cabedelo


Que língua de areia tão bela a do Cabedelo
lambendo os lábios do Atlântico


Nos braços do Cabedelo quero morrer
olhando a Foz do meu Porto e
erguendo um Côte du Rhone à nossa


Até sempre, companheiro de lutas e delírios


(Paris 03.03.2014, derradeiro aceno a um grande e querido amigo)


António Barbosa Topa


13/07/15

DELÍRIO



Cruzámo-nos por acaso
junto ao Sena perto da Pont Mirabeau


Ela vinha de Cuzco trazia um chapéu
e só falava quechua


Eu vinha da Ribeira lá para os lados do Porto
trazia nos olhos o nevoeiro
e no bolso um seixo
liso redondo quase pérola
e só falava Porto


Começou a nevar
e pouco a pouco o Sena (foi em Maio)
era só um risco quase azul
entre alvos lençóis
onde um fio de sangue
denso puro e virgem
desenhou uma águia andina
rompendo a neblina da Afurada
espetando os dedos nos olhos do sono


António Barbosa Topa

(Antologia Aurora de Poetas - Poetas Somos - Ediçao Campo das Letras)



26/06/15

Poema para L



És o poema que queria meu
para nele inscrever sonhos e quimeras


Nos teus cabelos
poria um pedaço de lua-cheia


Na tua fronte
desenharia um mar calmo em fogo


Nos teus olhos
teceria um ramo de estrelas candentes


Na tua boca
pescaria peixes dos mares do sul


No teu pescoço
enrolaria um colar de pérolas azuis


Nos teus seios
espalharia âmbar mel e cânfora


No teu ventre
desenharia um arco-íris de mil cores
para depor o meu rosto
entre as tuas coxas e ser barco sem governo
procurando o porto e o delírio


Para me colar e escorar em ti


Para me afundar dentro de ti


(Traduzido do francês por Dominique Dabo,
professor de português em Dakar; publicado na revista
Latitudes, n° 14, Maio 2002)


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La Fée poème
pour L.


Tu es le poème
que je voudrais mien
pour y inscrire
des mots des chimères
des rêves insolites


Sur tes cheveux
je déposerais
un morceau de pleine lune


Sur ton front
je dessinerais
une mer calme en feu


Sur tes yeux
je tresserais
des poissons des mers du sud


Sur ton cou
j'enfilerais
un collier de perles bleues


Sur tes seins
je répandrais
du miel et de l'ambre


Sur ton ventre
je peignerais
un arc-en-ciel de mille couleurs


Pour pouvoir reposer
ma tête entre tes jambes
être un bateau à la dérive
cherchant un port et le délire


Pour me coller
et me caler contre toi
pour me couler au fond de toi



(17.10.1996 - Revista Latitudes n° 1, Setembro 1997)


25/06/15

Equilíbrio


Todo o olhar é claro
levemente azul
despido e só que és
frente ao mar
e ao mundo


branco e puro
se apertas mãos
se trincas lábios


imenso és
quando amas
como imensa
longamente calma
é a mesa
onde o pão e o vinho está

(Em "O Fio da Palavra",

Edicões ACAP 77 - 1993)


24/06/15

Prece a Nossa Senhora dos Amantes


Deito-me
e levanto-me contigo
mas acordo embrulhado
nos frios lençóis da saudade


Nossa senhora dos amantes
traz de volta a minha amada
que nao quero morrer assim
esfarrapado de saudades


Morrer por morrer
que seja colado a ela
como se fora um veleiro
sumindo-se na linha do horizonte
devagar devagarinho
de braço dado com o sol



(Julho 2000 - Publicado na revista Latitudes, n° 14, Maio 2002)