23/06/15

Regresso


De Orly
partem os navios
que se aconchegam
no sonho
e adormecem
nos lábios do delírio


Em Orly
as janelas abrem-se
sobre o azul
e é lícito
debruçar-se
sobre o mar


À Portela
chegam chegando
pesados comboios
de sono e medo
carregados dos cheiros
dos domingos de partida


Em Campanhã
ou nas Devesas
nas lágrimas do adeus
acaba o sonho
começa o mar
e o sono


quando
numa só lágrima
o Atlântico inunda
o boulevard Saint Michel
e a Ribeira

(Em " O Fio da Palavra",

Edições ACAP 77, 1993)



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